quarta-feira, 9 de maio de 2012

A NOVA (DES) ORDEM MUNDIAL - MATERIAL DE APOIO.


De quem será o século 21?*
IMMANUEL WALLERSTEIN
Autor do livro "O Declínio do Poder Americano" delineia cenários que
incluem o enfraquecimento dos EUA, o poder ascendente da China e a
anarquia multipolar
*Publicado na Folha de São Paulo – Artigo – 11.06.2006

Henry Luce, em 1941, declarou que o século 20 era o século dos Estados Unidos. E a maioria dos analistas, desde então, concordou com ele. É claro que o século 20 foi mais do que apenas o século americano. Foi o século da descolonização da Ásia e da África. Foi o século do florescimento tanto do fascismo quanto do comunismo, como movimentos políticos. E foi o século tanto da Grande Depressão quanto da inacreditável e inusitada expansão da economia mundial nos 25 anos que se seguiram ao final da Segunda Guerra Mundial. Mas ele foi o século dos EUA, não obstante. Os Estados Unidos se tornaram a potência hegemônica inconteste no período de 1945 a 1970 e moldaram um sistema mundial de acordo com sua própria visão. Os Estados Unidos se tornaram o maior produtor econômico mundial, a força política dominante e o centro cultural do sistema mundial. Em suma, os Estados Unidos dirigiram o espetáculo mundial, pelo menos por algum tempo. Hoje os EUA se encontram em declínio visível. Cada vez mais analistas se dispõem a declarar isso abertamente, mesmo que a linha oficial do establishment americano seja negá-lo com vigor, assim como certa parte da esquerda mundial insiste em afirmar a hegemonia americana contínua. Mas realistas de mente clara de todas as vertentes reconhecem que a estrela dos EUA está perdendo seu brilho. A pergunta que percorre todo o trabalho sério de traçar prognósticos para o mundo é, portanto, de quem será o século 21? É claro que ainda estamos apenas em 2006, e é um pouco cedo para responder a essa pergunta com qualquer grau de certeza. Apesar disso, líderes políticos de todas as partes vêm lançando suas apostas e moldando suas políticas segundo essas apostas. Se reformularmos a pergunta, indagando apenas qual poderá ser a cara do mundo em 2025, por exemplo, talvez possamos ao menos dizer alguma coisa inteligente. Existem basicamente três conjuntos de respostas à pergunta de qual será a cara do mundo em 2025. A primeira é que os EUA vão desfrutar uma última fase de domínio, uma retomada de seu poder, e, na ausência de qualquer adversário militar sério, continuarão a mandar no mundo. A segunda diz que a China tomará o lugar dos EUA como superpotência mundial. A terceira reza que o mundo se tornará uma arena de desordem multipolar anárquica e relativamente imprevisível. Examinemos a plausibilidade das três previsões.
Improvável
Os EUA por cima? Existem três razões para se duvidar disso. A primeira delas, de natureza econômica, é a fragilidade do dólar americano como única moeda forte de reserva na economia mundial. Hoje o dólar é sustentado por infusões maciças de compras de títulos por parte do Japão, da China, Coréia e outros países. É extremamente improvável que isso continue. Quando o dólar tiver uma queda dramática, ele pode provocar um aumento momentâneo na venda de bens manufaturados, mas os EUA vão perder a posição de comando sobre a riqueza mundial e a capacidade de ampliar seu déficit sem sofrer penalidades sérias e imediatas. O padrão de vida americano vai cair, e haverá um influxo de novas moedas fortes de reserva, incluindo o euro e o iene. A segunda razão é militar. Tanto o Afeganistão quanto, em especial, o Iraque vêm demonstrando recentemente que não basta possuir aviões, navios e bombas. Um país precisa também dispor de uma grande força terrestre para superar resistências locais. Os EUA não dispõem de tal força e não vão dispor, por razões políticas internas. Logo, o país está fadado a perder guerras desse tipo. A terceira razão é de natureza política. Países em todo o mundo estão concluindo, pela lógica, que já podem desafiar os Estados Unidos politicamente. Vejamos a instância mais recente disso: a Organização de Cooperação de Xangai, que reúne a Rússia, China e quatro repúblicas centro-asiáticas, está prestes a se ampliar para incluir a Índia, o Paquistão, a Mongólia e o Irã. O Irã foi convidado no exato momento em que os EUA tentam organizar uma campanha mundial contra seu regime. O "Boston Globe" descreveu o que está ocorrendo como "aliança anti-Bush" e  "um deslocamento tectônico em termos geopolíticos". Será, então, que a China vai emergir no topo até 2025? É verdade que a China vem se saindo muito bem economicamente, vem ampliando consideravelmente sua força militar e está até mesmo começando a exercer um papel político sério em regiões distantes de suas fronteiras. Não há dúvida de que a China estará muito mais forte em 2025 do que está hoje -mas o país enfrenta três problemas que terá que superar. O primeiro problema é interno. A China não está politicamente estabilizada. A estrutura unipartidária tem a força do sucesso econômico e do sentimento nacionalista a seu favor. Mas ela enfrenta a insatisfação de cerca de metade da população, que não conseguiu subir no bonde econômico, e a insatisfação da outra metade diante das restrições impostas a sua liberdade política interna. O segundo problema da China diz respeito à economia mundial. O crescimento incrível do consumo na China (lado a lado com o da Índia) vai cobrar seu preço tanto do meio ambiente mundial quanto das possibilidades de acúmulo de capital. Um excesso de consumidores e de produtores terá repercussões graves sobre os níveis de lucro mundiais.
União
O terceiro problema está nos países vizinhos da China. Se a China levasse a cabo a reintegração de Taiwan, ajudasse a promover a reunificação das duas Coréias e chegasse (psicológico e politicamente) a um acordo com o Japão, poderia surgir uma estrutura geopolítica unificada asiática que seria capaz de assumir uma posição hegemônica no mundo. Esses três problemas podem ser superados, mas não será fácil. E as chances de que a China consiga superar essas dificuldades até 2025 são incertas. O último cenário é o da anarquia multipolar e das flutuações econômicas imprevisíveis. Em vista da incapacidade de se conservar em poder hegemônico antigo, da dificuldade em se estabelecer um novo e da crise no acúmulo mundial de capital, esse terceiro cenário parece ser o mais provável.
IMMANUEL WALLERSTEIN, pesquisador sênior na Universidade Yale, é autor de
"O Declínio do Poder Americano" (Ed. Contraponto).
Tradução de CLARA ALLAIN



A NOVA (DES) ORDEM MUNDIAL - MATERIAL DE APOIO


A HEGEMONIA DO NOVO LIBERALISMO
Corrente dominante no pensamento econômico contemporâneo, o neoliberalismo defende a abertura dos mercados e a redução do Estado.
No começo dos anos 1990, entramos num novo momento econômico mundial, que se convencionou chamar de globalização. Iniciado com o fim da Guerra Fria, após a queda do Muro de Berlim (1989) e a derrocada da União Soviética (1991) e dos regimes comunistas do Leste Europeu, é um período marcado pela crescente interdependência de todos os atores econômicos globais - governos, empresas e movimentos sociais.
Para entendermos a globalização, é preciso saber que o fenômeno em si começou há muito tempo. Os primeiros passos rumo à conformação de um mercado mundial e de uma economia global remontam aos séculos XV e XVI, com a expansão ultramarina européia. [...] O mercantilismo estimulou a procura de diversas rotas comerciais da Europa para Ásia e a África, cujas riquezas iriam somar-se aos tesouros extraídos das minas de prata e ouro do continente americano.
Essas riquezas forneceram a base para a Revolução Industrial, no fim do século XVIII, que, com o tempo, desenvolveu o trabalho assalariado e o mercado consumidor. As descobertas científicas e as inovações de máquinas provocaram a expansão dos setores industrializados e possibilitaram o desenvolvimento da exportação de produtos.
Surgiram, no fim do século XIX, as corporações multinacionais, industriais e financeiras, que iriam reforçar-se e crescer no século seguinte. O mercado mundial estava, então, atingindo todos os continentes. A interdependência econômica entre as nações tornou-se evidente em 1929: após a quebra da Bolsa de Valores de Nova York, a depressão econômica teve consequências negativas em todo o planeta. Enquanto isso, a Revolução Russa de 1917 e outros movimentos após a II Guerra Mundial retiraram diversos países de uma inserção direta no mercado mundial. Mas, com o tempo, esses regimes comunistas passaram a sentir uma crescente pressão econômica e política e foram se abrindo, gradualmente.
O fim do século XX assiste a um salto nesse processo. Em 1989 ocorre a queda do Muro de Berlim, marco da derrocada dos regimes comunistas no Leste Europeu. Nos anos seguintes, esses países serão incorporados ao sistema econômico mundial. A própria integração da economia global acentuou-se a partir dos anos 1990, por intermédio da revolução tecnológica, especialmente no setor de telecomunicações. A internet, rede mundial de computadores, revelou-se a mais inovadora tecnologia de comunicação e informação do planeta. A troca de informações (dados, voz e imagens) tornou-se quase instantânea, o que acelerou muito o fechamento de negócios.
[...]
Fonte: Atualidades Vestibular. São Paulo: Abril, 2008. p. 152.

TURBULÊNCIAS NO MUNDO GLOBALIZADO
A economia mundial enfrenta recessão em 2009, após crise financeira iniciada nos Estados Unidos.
Falência de bancos e indústrias, bolsas de valores em queda e países com a economia em crise. Esses têm sido alguns dos acontecimentos recentes da economia mundial, sobre os quais podemos ler todo dia nos jornais e revistas. Como, atualmente, a economia dos países é muito interligada, a crise iniciada há dois anos no mercado financeiro dos Estados Unidos acabou rapidamente por afetar a economia global de modo geral.
A atual crise estourou em setembro de 2008, quando uma onda de falências atingiu bancos e empresas imobiliárias norte-americanos. A seguir, o problema espraiou-se para a Europa, provocando a pior crise econômica desde a quebra da Bolsa de Nova York, em 1929. Em consequência, o mundo entrou numa recessão em 2009, da qual estava tentando se recuperar no fim do ano, de acordo com o Fundo Monetário Internacional (FMI). Mas eis que, em dezembro, eclodiu uma crise de endividamento financeiro da Grécia, país da União Europeia, que voltou a tumultuar as bolsas de valores e os mercados internacionais.
As principais características da atual crise, como a grande liberdade de movimento de capitais e a velocidade com que os problemas financeiros surgidos nos Estados Unidos se espalharam, são típicas da globalização, atual fase de desenvolvimento da economia global, na qual o mundo entrou há duas décadas.
[...]
Fonte: Atualidades Vestibular. São Paulo: Abril, 2011. p. 134.