Revoluções
agrícola e verde e transgênicos
A evolução da capacidade de
produção, nos últimos 50 anos, foi em média superior ao crescimento da
população mundial. Apesar disso, segundo a FAO (Organização das Nações Unidas
para a Agricultura e a Alimentação), neste início de milênio, 852 milhões de
pessoas viviam em estado de fome crônica ou de subnutrição, sendo que 815
milhões nos países subdesenvolvidos .
O espaço rural de vários países se
modernizou. A mecanização agrícola, o uso da biotecnologia, de sistemas de
estocagem e escoamento da produção tornaram a agropecuária mais produtiva e
competitiva. Os investimentos e o controle da produção agrícola por grandes
empresas disseminou a utilização de produtos apropriados à correção do solo, de
adubos químicos, de agrotóxicos, de rações, de sementes geneticamente
modificadas, etc. Por outro lado, diversas regiões do mundo vivem as tragédias
da subnutrição e da fome.
O Brasil em seu imenso território vive essa mesma
contradição. Coloca-se entre os dez maiores exportadores agrícolas mundiais,
desenvolve uma agricultura moderna e de elevada competitividade, possui o maior
rebanho bovino comercial do mundo, ao mesmo tempo em que uma parte expressiva
da população rural vive em condições miseráveis.
A revolução agrícola
O primeiro grande avanço
tecnológico nas atividades agropecuárias ocorreu dentro do mesmo processo da
Revolução Industrial , no século 18. Os países que se industrializaram nesse
período modernizaram os seus sistemas de cultivo, elevaram a produção e a
produtividade - produzir mais com menos terra e mão de obra -- introduziram
novas técnicas com o desenvolvimento de instrumentos agrícolas.
A migração para as cidades, nesse
período, também diminuiu o número de pessoas envolvidas nas atividades
agrícolas. Dessa forma, a Revolução Industrial e a intensa urbanização gerada por ela exigiram uma Revolução
Agrícola, capaz de ampliar o fornecimento de matérias-primas à indústria e a
produção de alimentos necessária ao abastecimento de uma população que se
urbanizava.
A Revolução Verde
A partir da segunda metade do
século 20, os países desenvolvidos criaram uma estratégia de elevação da
produção agrícola mundial por meio da introdução de técnicas mais apropriadas
de cultivo, mecanização, uso de fertilizantes, defensivos agrícolas e a
utilização de sementes modificadas em substituição às sementes tradicionais,
menos resistentes aos defensivos agrícolas. Concebido nos Estados Unidos , esse
processo ficou conhecido como Revolução Verde. Sua principal bandeira era
combater a fome e a miséria dos países mais pobres, por meio da introdução
de técnicas mais modernas de cultivo.
Ao mesmo tempo em que modernizou a
agricultura em alguns países subdesenvolvidos, a Revolução Verde elevou a
dependência em relação aos países mais ricos que detinham a tecnologia
indispensável ao cultivo das novas sementes e forneciam os insumos necessários
para viabilizar a produção.
A elevação da produtividade diminuiu o preço de diversos
produtos para o consumidor, mas o custo dos insumos (bem
ou serviço utilizado na produção) aumentou numa escala muito maior. A produção
de determinados gêneros contemplados pela Revolução Verde era viável quando
realizada em grande escala, em grandes propriedades agrícolas.
Dessa forma, muitos pequenos
proprietários ligados à agricultura comercial ficaram incapacitados de
incorporar essas novas tecnologias, abandonaram suas atividades e venderam as
suas propriedades, com impacto desastroso na estrutura fundiária de diversos
países, entre eles o Brasil. Quanto à erradicação da fome, a principal
promessa da Revolução Verde, os próprios dados da ONU mostram os resultados
insuficientes.
A Revolução Transgênica
Os transgênicos são espécies cuja constituição genética foi
alterada artificialmente e convertida a uma forma que não existe na natureza. É um ser vivo que recebeu um gene
de outra espécie animal ou vegetal. O gene inserido pode vir de outra planta ou
mesmo de outra espécie completamente diferente. No caso das plantas a
modificação é feita visando um organismo com características diferentes das
suas, como por exemplo tornar uma planta mais resistente a pragas e insetos. A
planta resultante dessa inserção passa a ser denominada como "geneticamente
modificada"
A partir de 1953, com a descoberta
da estrutura das moléculas do DNA, a biotecnologia provocou uma nova revolução
na agricultura. Com isso o homem viu a possibilidade de manipular, trocar de
lugar as letras do código genético e já na década de 70, descobriu-se como unir
fragmentos de diferentes espécies.
Através de técnicas utilizadas para
alteração de genes em diferentes organismos, com a fusão de genes de espécies
diferentes que jamais se cruzariam na natureza, foram criadas diversas
variedades transgênicas ou OGMs (Organismos Geneticamente Modificados).
Pouco mais de dez anos depois, as
primeiras plantas transgênicas passaram a ser produzidas comercialmente e com
isso a biotecnologia ganhou cada vez mais destaque no cenário científico e
tecnológico, com a promessa de uma agricultura mais produtiva e menos
dependente do uso de agrotóxicos. E com essa promessa vieram também as dúvidas
sobre os efeitos secundários dos transgênicos e as conseqüências que podem
provocar na saúde e no ambiente.
É uma discussão que envolve
oposições econômicas, sociais e ambientais. De um lado estão os defensores
da biotecnologia, que defendem o aumento da produção de alimentos a
partir da redução de custos a ponto de atacar o problema da fome mundial.
De outro lado, estão aqueles que argumentam sobre o impacto ainda
desconhecido dos transgênicos sobre a saúde e o meio ambiente.
As principais variedades
transgênicas da grande agricultura como soja, milho, algodão, canela, mandioca,
tabaco, arroz, tomate e trigo são controladas atualmente por poucas empresas
multinacionais como a Novartis, a Monsanto, a Du Pont, a AstraZeneca e a
Aventis.
Como as sementes transgênicas,
diferentemente das sementes tradicionais, nunca são geradas pela própria planta
e, portanto, têm que ser adquiridas a cada novo plantio, teme-se que tais
corporações assumam o controle da produção das sementes transgênicas e isso
resulte no controle do mercado mundial de alimentos, apesar da vasta produção
de produtos orgânicos.
Talvez o mundo não esteja ainda totalmente preparado para os
grandes avanços da era da moderna biotecnologia ou tecnologia do DNA recombinante.
A chegada da genética como a nova matéria prima da economia, provavelmente irá
causar grandes modificações na história da humanidade.
FAO – Agricultura Mundial até 2030 – principais pontos
Este sumário do relatório da FAO é
uma pequena versão dos resultados do estudo técnico feito pela entidade:
“Agricultura Mundial: dirigindo a 2015/2030”
Segundo um informe realizado pela Organização
das Nações Unidas para a Agricultura e Alimentação (FAO), a população mundial
crescerá de cerca de 7 bilhões de pessoas de hoje para 8,3 bilhões de pessoas
em 2030. O crescimento populacional ocorrerá em uma taxa média de 1,1% por ano
até 2030, o que denota um ritmo mais lento quando comparado com o crescimento
anual dos últimos 30 anos, que foi de 1,7%. Como resultado disso, o crescimento
mundial na demanda por produtos agrícolas deverá ser mais lento nos próximos
anos, passando de uma média de 2,2% por ano nos últimos 30 anos para 1,5% por
ano até 2030. Nos países em desenvolvimento, essa redução no crescimento da
demanda será mais dramática, passando dos 3,7% dos últimos 30 anos para uma
média de 2% até 2030.
No entanto, os países em desenvolvimento
com níveis de consumos baixos a médios, que representam cerca da metade da
população dos países em desenvolvimento, terão um lento decréscimo no
crescimento da demanda por alimentos que passará de 2,9% para 2,5% por ano, e
um aumento do consumo per capita.
A população mundial passará a se
alimentar cada vez melhor até 2030, com 3050 quilocalorias disponíveis por
pessoa, comparado com as 2360 quilocalorias disponíveis por pessoa por dia na
década de sessenta e com as 2800 disponíveis hoje. Esta mudança reflete,
sobretudo, o aumento do consumo em muitos países em desenvolvimento, onde a
média ficará em torno de 3000 quilocalorias em 2030.
O número de pessoas passando fome
nos países em desenvolvimento deverá declinar de 777 milhões de hoje para cerca
de 440 milhões em 2030. Isto significa que a meta traçada pela Cúpula Mundial
de Alimentação de 1996, de reduzir o número de pessoas que passam fome pela
metade do nível de 1990-92 (815 milhões) até 2015, não será cumprida nem até
2030. A região do deserto do Saara na África é causa de sérias
preocupações, porque o número de pessoas cronicamente subnutridas deverá
decrescer somente de 194 para 183 milhões.
Os padrões de consumo de alimentos
estão se tornando mais similares através do mundo, deslocando-se em direção a
alimentos de maior qualidade e mais caros, como produtos derivados de carne e
leite. O consumo de carne nos países em desenvolvimento, por exemplo, aumentou
de apenas 10 quilos por pessoa por ano em 1964-66 para 26 quilos em 1997-99. A
projeção é que este consumo aumente para 37 quilos per capita por ano até 2030.
O leite e os produtos lácteos também têm visto um rápido crescimento, com o
consumo per capita passando de 28 quilos por ano em 1964-66 para 45 quilos
atualmente, e deverá aumentar para 66 quilos até 2030. A FAO espera que o
aumento no consumo de carne e lácteos seja menos dramático do que o ocorrido no
passado.
Os cereais ainda são, de longe, a mais importante fonte de
alimentos do mundo, tanto para consumo humano direto, como para produção de
carne. Serão
necessários bilhões de toneladas extras de cereais até 2030.
Os países em desenvolvimento se tornarão cada vez mais
dependentes das importações de cereais, carnes e leite, uma vez que sua
produção não acompanhará o ritmo da demanda. Até 2030, eles poderão estar produzindo somente 86% de
suas necessidades de cereais, com as importações líquidas aumentando dos atuais
103 milhões de toneladas para 265 milhões de toneladas até 2030.
Os tradicionais exportadores de grãos, como os Estados Unidos,
a União Européia, o Canadá, a Austrália e a Argentina, e os países em transição
que estão emergindo como exportadores, deverão produzir o excesso necessário
para preencher a lacuna dos países em desenvolvimento. “Se os preços reais dos alimentos
não aumentarem, e as exportações dos produtos e serviços das indústrias
aumentarem como anteriormente, então a maioria dos países terá recursos para
importar cereais para suprir suas necessidades. Entretanto, os países mais
pobres tendem a ser menos hábeis para pagar pelas importações”, informou o
documento da FAO.
O uso de cereais na nutrição dos
animais não contribui com a fome e a desnutrição. Globalmente, cerca de 660
milhões de toneladas de cereais são utilizadas na alimentação dos animais a
cada ano. Isto representa um terço do total utilizado mundialmente. Se
estes cereais não fossem utilizados como alimentos dos animais, eles
provavelmente não seriam produzidos, de forma que não estariam disponíveis para
consumo humano em muitos casos, de acordo com o relatório. O que é mais provável é que a ausência da
demanda por cereais para a produção animal levasse a uma menor produção destes
cereais.