terça-feira, 15 de outubro de 2019

Rússia e Ucrânia.

Rússia e Ucrânia encontram-se em um impasse político que coloca a província da Crimeia no centro de uma crise sem precedentes na região.

As disputas entre Rússia e Ucrânia pela região da Crimeia tomaram conta dos noticiários do ano de 2014. Para entender essa questão, é preciso compreender o histórico e as recentes transformações no cenário político ucraniano, o que acabou por envolver relações diplomáticas entre os dois países e outras forças políticas, notadamente a União Europeia e os Estados Unidos.

 A divisão étnica e política na Ucrânia

A Ucrânia é um país marcado por uma ampla pluralidade política e linguística em seu território. Em sua região ocidental, a maioria dos habitantes fala ucraniano e possui, em geral, uma tendência em assumir a linha política que conduziria o país a uma aproximação com a União Europeia. Essa postura vem se alastrando pelo país desde a queda da União Soviética, da qual fazia parte a Ucrânia como uma de suas repúblicas.
Na região oriental do país, registra-se a presença de povos que utilizam o idioma russo, com uma grande quantidade de famílias cuja descendência se relaciona com o país vizinho. Por esse motivo, há algumas zonas em que se estabeleceu um forte sentimento russófono, em que se defende uma maior integração da Ucrânia com Moscou.

Diante dessa configuração, emergiram vários grupos – partidários e não partidários – que passaram a disputar o poder na Ucrânia e o rumo dos direcionamentos diplomáticos e econômicos do país. Por esse motivo, a instabilidade política na região vem se elevando com o passar dos anos.

Os protestos na Ucrânia e a derrubada do presidente Victor Yanukovich

O estopim para a eclosão de um cenário que já apresentava certa instabilidade política ocorreu quando o então presidente da Ucrânia, Victor Yanukovich, refugou em assinar um acordo que estava previamente firmado com a União Europeia. Tratava-se de um contrato de livre-comércio que praticamente incluiria a Ucrânia na União Europeia e a afastaria comercial e politicamente da CEI (Comunidade dos Estados Independentes) e, consequentemente, da Rússia.
A recusa de Yanukovich em assinar o tratado ocorreu pela pressão exercida pelo presidente russo, Vladimir Putin, haja vista que os ucranianos são extremamente dependentes do gás russo como fonte de energia. Além disso, a Rússia ofereceu uma série de acordos que totalizaria uma ajuda de 15 bilhões de dólares para fortalecer a economia da Ucrânia.
Esse acontecimento era o que os movimentos pró-Europa precisavam para manifestar os seus descontentamentos com o governo, que era politicamente conduzido pelos grupos pró-Rússia. Assim, iniciou-se uma série de protestos na Ucrânia pedindo não só a reaproximação com a UE, mas também a deposição do presidente Yanukovich.

Entre os grupos que comandavam as revoltas estavam o movimento Udar (“soco”, em ucraniano), liderado pelo ex-boxeador e personalidade carismática no país, Vitali Klitschko. Ao seu lado, encontrava-se o partido Svoboda (“liberdade”), um grupo de extrema-direita que se associa a ideais nazifascistas, tal qual outros grupos, como o Bratstvo e o Setor Direito.

Na liderança, à frente de todos essas composições, está Arseniy Yatsenyuk, um militante bastante influente e que comanda o “Pátria”, um dos maiores partidos políticos da Ucrânia. Ao seu lado está Yulia Tymoshenko, ex-primeira-ministra presa em 2009 em virtude de supostas fraudes durante acordos envolvendo justamente a comercialização de gás natural com a Rússia.

Após essa série de protestos na Ucrânia, que mobilizou uma considerável quantidade de habitantes no país, marcada pelos confrontos com a política, a tomada e queima de prédios públicos, além do registro de algumas mortes, uma série de transformações ocorreu. A primeira delas foi a renúncia do então Primeiro-Ministro Mykola Azarov em Janeiro de 2014. A segunda foi a derrubada e exílio de Viktor Yanukovich, que foi substituído por um governo provisório composto pelas forças políticas acima mencionadas.

A postura geopolítica da Rússia e a questão da Crimeia

O presidente Vladimir Putin, como era de se esperar, reagiu imediatamente à mudança política na Ucrânia, considerando a derrubada do presidente como um Golpe de Estado e iniciou uma série de retaliações ao país. A principal delas foi o início de uma intervenção sobre a Crimeia, uma província localizada no sul da Ucrânia e de grande valor estratégico, principalmente por se localizar em uma península banhada pelo Mar Negro, constituindo uma ótima saída para o mar (confira novamente o mapa no início do texto).

A Crimeia, na verdade, pertencia à Rússia, e mais da metade de sua população fala o idioma russo. Esse território foi cedido à Ucrânia em 1954, quando esta ainda fazia parte da URSS, pelo presidente soviético Nikita Khrushchev, que era ucraniano. Por isso, Putin considera que as transformações políticas no país configuram uma ameaça à segurança dos cidadãos russos residentes na província em questão.

Em 2010, inclusive, havia sido feito um acordo entre os dois países sobre a questão da Crimeia, em que os russos foram autorizados a instalar uma base militar na cidade de Sebastopol, no extremo sul da península, o que se mantém ainda hoje. Em troca, na época, a Rússia concedeu cerca de 40 bilhões de dólares em gás natural.

Após a tomada do poder pelas forças ucranianas, a primeira ação de Putin foi militarizar a região da Crimeia, ocupando aeroportos e bases militares. A ação foi facilitada pela pouca resistência do governo ucraniano e pelo fato de as forças militares da Crimeia serem, em grande parte, formadas por cidadãos de origem ou descendência russa. Essa decisão gerou um agravo nas relações diplomáticas, uma vez que Estados Unidos e União Europeia reagiram prontamente, ameaçando o estabelecimento de sanções diplomáticas contra a Rússia.

O Kremlin (sede do governo russo) não recuou e continuou com as suas intenções de anexar a Crimeia como parte de seu território. Por isso, foi marcado um referendo no local em que a população dessa província decidiria o futuro do país, o que ocorreu no dia 16 de março de 2014, com resultado vitorioso para os russos, sendo 96.7% dos votos favoráveis à anexação territorial.

Com isso, sanções e pressões externas foram impostas pelos norte-americanos e europeus. No entanto, elas resumiram-se ao congelamento de bens de alguns diplomatas russos e restrições na emissão de vistos, além de algumas poucas questões comerciais, o que pode ser considerado como pouco significativo em termos geopolíticos. Apesar disso, a situação vem se tornando cada vez mais tensa, uma vez que uma provável guerra entre Rússia e Ucrânia eleva os temores de um conflito de amplas dimensões envolvendo potências nucleares, pois tal evento forçaria uma possível intervenção da OTAN (Organização do Tratado do Atlântico Norte).

sexta-feira, 21 de junho de 2019

GUERRA CIVIL NA SÍRIA

A ONU considera que a guerra civil na Síria é a maior crise humanitária do século XXI. Hoje, estima-se que o conflito vitimou ao menos 250 mil pessoas, que mais de 4,5 milhões tenham saído do país como refugiadas e que outros 6,5 milhões foram obrigadas a se deslocar dentro da Síria. Com a economia em frangalhos, quase 70% dos sírios que permaneceram agora vivem abaixo da linha de pobreza. Como começou tudo isso?

Março de 2011 na Síria. Um grupo de crianças em Daraa (ou Dera), no sul da Síria, pichou frases com críticas ao governo, e foi preso. Inconformadas, centenas de pessoas saem às ruas da cidade para protestar contra as restrições à liberdade promovidas pelo governo do ditador Bashar Al-Assad. Num primeiro momento, simpatizantes dos que se rebelaram contra o governo começaram a pegar em armas – primeiro para se defender e depois para expulsar as forças de segurança de suas regiões. Esse levante de pessoas nas ruas, lutando por democracia, faz parte de um movimento chamado Primavera Árabe e podemos dizer que esse processo culminou no início da guerra civil na Síria.

Após a represália do governo de Assad contra os jovens que estavam se rebelando contra o regime, alguns grupos foram formados a fim de combater, de fato, as forças governamentais e tomar o controle de cidades e vilas. A batalha chegou à capital, Damasco, e depois a Aleppo em 2012. Mas desde que começou, a guerra civil na Síria mudou muito.

O Estado Islâmico aproveitou o vácuo de representação por parte do governo, a revolta da sociedade civil e a guerra brutal que acontece Síria para fazer seu espaço. Foi conquistando territórios tão abrangentes, tanto na Síria como no Iraque, que proclamou seu ‘califado’ em 2014. Para isso, tiveram de lutar contra todos: rebeldes, governistas, outros grupos terroristas – como se tivessem feito uma guerra dentro da guerra.

Há evidências de que todas as partes cometeram crimes de guerra – como assassinato, tortura, estupro e desaparecimentos forçados. Também foram acusadas de causar sofrimento civil, em bloqueios que impedem fluxo de alimentos e serviços de saúde, como tática de confronto.

Agentes externos: EUA x Rússia - Pelo avanço do Estado Islâmico no ganho de territórios, os Estados Unidos fizeram ataques aéreos na Síria em tentativa de enfraquecê-lo, evitando ataques que pudessem beneficiar as forças de Assad – isso em 2014. Em 2015, a Rússia fez o mesmo contra terroristas na Síria, mas ativistas da oposição dizem que os ataques têm matado civis e rebeldes apoiados pelo Ocidente.

O resumo da obra em termos de apoio é esse: a Rússia e os Estados Unidos querem o fim do Estado Islâmico. Porém, os Estados Unidos querem a queda do governo de Bashar Al-Assad – por considerarem que seu regime não-democrático é prejudicial à Síria – e, por isso apoia os rebeldes; por outro lado, a Rússia acredita na força de Assad e está apoiando seu regime. A Síria, então, é o território do fogo cruzado dessa guerra fria.

Governo Sírio e Aliados - O governo sírio é liderado pelo ditador Bashar Al-Assad. Ele é sucessor de uma família que está no poder desde 1970. O regime no país era brutal com a população, de partido único e laico – apesar de a família Assad ser xiita. Apesar de não apoiarem o ditador, cristãos, xiitas e até parte da elite sunita preferem ver Assad no poder diante da possibilidade de ter um país tomado pelos extremistas.

Quanto às alianças externas, Assad conta com o apoio do Irã e do grupo libanês Hezbollah. Juntos eles formam um “eixo xiita” – ou seja, seguem essa interpretação da religião islâmica – no Oriente Médio. O grupo se opõe a Israel e disputa a hegemonia no Oriente Médio com as monarquias sunitas, lideradas pela Arábia Saudita. O principal aliado de fora é a Rússia, que mantém uma antiga parceria com a Síria. Tanto o apoio do Hezbollah e das milícias iranianas, quanto os bombardeios mais recentes realizados pelas forças russas têm sido fundamentais para a sobrevivência do regime de Assad.

GRUPOS REBELDES - Uma das primeiras forças internas que se rebelou contra o governo sírio, praticamente começando a guerra civil na Síria, foram os grupos sunitas – Assad é xiita. São chamados de “rebeldes moderados”, por não serem adeptos do radicalismo islâmico. A organização está envolvida com países da Europa e com os Estados Unidos com o objetivo de derrubar o governo de Assad. Três grandes potências no Oriente Médio também colaboram com os rebeldes: Turquia, Arábia Saudita e Catar, relevando os interesses dos países próximos à Síria, também.

EXTREMISTAS ISLÂMICOS - Entre os grupos que querem derrubar Assad, há também facções extremistas islâmicas, que estão fragmentadas em diversos grupos. Uma das organizações que mais conquistaram terreno, principalmente nos primeiros anos do conflito, foi a Frente Al-Nusra, um braço da rede extremista Al Qaeda na Síria. Posteriormente, a partir de 2013, o grupo terrorista Estado Islâmico (EI) aproveitou-se da situação de caos criada pela guerra civil e, vindo do Iraque, avançou de forma avassaladora e brutal, ocupando metade do território sírio.

CURDOS - Os curdos também fazem parte da guerra civil na Síria. São uma etnia de 27 a 36 milhões de pessoas no mundo que vivem em diversos países, inclusive na Síria e em países vizinhos. Eles reivindicam a criação de um Estado próprio para o seu povo – o Curdistão. Desde o início do conflito na Síria uma milícia formada para defender as regiões habitadas pelos curdos no norte do país, se fortaleceu. Para o regime de Assad, tornaram-se bastante úteis, porque a milícia se opõe aos rebeldes moderados e também ao Estado Islâmico.

Estado Islâmico

O Estado Islâmico é um grupo terrorista e extremista que age em torno da religião islâmica. Surgiu de outra célula terrorista, pois se intitulava “Al Qaeda no Iraque” – e estava presente lutando contra as tropas estadunidenses que invadiram o país em 2003. Depois desse grupo quase se dissolver, ele renasceu em 2006 com o nome de Estado Islâmico.

É considerada a organização terrorista mais poderosa e perigosa no mundo hoje. Seu surgimento se relaciona diretamente à “Guerra ao Terror”, política externa do governo do ex-presidente dos Estados Unidos George W. Bush. Tal política foi uma resposta aos ataques de 11 de setembro de 2001 cometidos pela organização terrorista Al Qaeda. Nesse contexto, quando os EUA invadiram o Iraque, vários movimentos se organizaram em entidades terroristas, que queriam combater as invasões – e o Estado Islâmico foi uma delas.

Em 2010, com o novo líder Abu Bakr al-Baghdadi, o grupo passou a ser reconhecido como “Estado Islâmico do Iraque e da Síria” (Islamic State of Irak and Syria – ISIS). Entre 2011 e 2013, devido aos conflitos na Síria no pós-primavera árabe, o ISIS  ganhou força, conforme foi aumentando o número de rebeldes lutando contra o regime.

Em 2014, o E.I. estava tão forte que dominou algumas áreas na Síria e no Iraque, as quais chamou de califados – o termo se refere aos antigos impérios islâmicos depois de Maomé, que seguiam rigorosamente as leis islâmicas. Esse é o principal objetivo do E.I.: tomar territórios para chamar de seu, criar esse Estado que tem como princípio as leis islâmicas e destruir tudo o que remeter ao Ocidente – em termos políticos, culturais, religiosos e históricos.

O Estado Islâmico toma posse de bases militares, bancos, campos de petróleo, em todas as áreas que conquista, a fim de dominar tudo o que existe no território. Dessa forma, também exerce controle sobre a população que reside ali, uma vez que agem como um verdadeiro Estado, com o líder (o califa), governo próprio, com ministérios, cortes islâmicas, segurança. Cobram impostos e taxas da população, também, além de vender petróleo ilegalmente.

O E.I. é conhecido por querer destruir a história – monumentos, estátuas, templos históricos -, mas também pela truculência com que age com civis, realizando sequestros e extorsões. A venda ilegal de petróleo, os sequestros e as extorsões garantem ao E.I. uma renda diária estimada em 2 milhões de dólares.

O Estado Islâmico é conhecido por suas estratégias de mortes coletivas. Ou seja, a organização promove execuções, decapitações, enforcamentos e amputações em massa e divulga os vídeos na internet. Eles fazem isso com os grupos que consideram infiéis – as minorias étnicas e religiosas, além de ocidentais – e os apóstatas – muçulmanos que teriam renegado a religião.

Os últimos ataques mais reverberados (repercutidos) na mídia, em escala mundial, tiveram a autoria assumida pelo Estado Islâmico. Essas ações, que tomaram lugar na Europa, nos Estados Unidos, além de outros países na Ásia e na África, mostram o poder de capilarização (ação de melhor distribuir) que a organização tem no mundo.

Os atentados foram:

O ataque no Bataclan, uma casa de shows em Paris, num bairro com vários restaurantes, cafés e boates do tipo, em 13 de novembro de 2015. Foram 130 pessoas mortas e 352 feridas, com tiros ou explosões – que não se limitaram ao Bataclan, e atingiram pessoas em outros locais da região. Especula-se que a ação foi uma retaliação aos ataques da França e dos EUA na região dominada pelo E.I. na Síria e no Iraque. Depois dos ataques na França, discutiu-se sobre a questão da segurança na União Europeia e, também, sobre as várias pessoas recrutadas pelo Estado Islâmico no continente. Alguns dos autores eram da Bélgica, mas haviam viajado diversas vezes à Síria naquele ano.
A bomba que atingiu e derrubou o avião russo da companhia Metrojet no Egito, em 31 de outubro de 2015. Estavam a bordo e morreram 224 pessoas.

Um ataque de homens-bomba matou 44 pessoas em Beirute, no Líbano.

Nos EUA, um casal que se disse integrante do Estado Islâmico atirou contra uma residência de apoio e tratamento a pessoas com deficiência. Deixaram 14 pessoas mortas.

Poder De Recrutamento - A organização ganhou força em 2011, quando a guerra civil na Síria, contra o ditador Bashar Al-Assad começou a se intensificar. Assim, desenvolveu um enorme poder de mobilização e uma capacidade operacional muito eficiente, com alto treinamento e muitos aparatos militares.

Não existem números exatos sobre a quantidade de pessoas que são parte da organização Estado Islâmico. Estima-se que são cerca de 35 mil pessoas, mas outras avaliações colocam números próximos a 100 mil. A organização utiliza desde vídeos no YouTube a posts nas redes sociais ou revistas online, em que profere discurso religioso que instiga o ódio para convidar pessoas a se juntar a eles.

As formas de recrutamento do E.I. são extremamente eficazes em diversas partes do mundo. Na Europa, por exemplo, existem muçulmanos decepcionados com a xenofobia que sofrem e com a falta de oportunidades e que, por isso, aceitam fazer parte do E.I. Já em lugares como a Síria, onde a guerra civil contra o ditador é extremamente violenta, alguns rebeldes se juntam ao grupo a fim de ganhar mais força na luta contra o governo.



P.S: Este texto foi escrito em 2017. Portanto, o tabuleiro geopolítico (e seus números) já foi bastante alterado.

sexta-feira, 8 de março de 2019

MATERIAL DE APOIO - EUROPA


EUROPA – ASPECTOS GERAIS e o PIONEIRISMO INGLÊS
A Europa é marcada por uma grande densidade de territórios independentes, fruto das relações históricas de disputas pelo poder.

A Europa é o segundo menor continente em superfície do mundo, cobrindo cerca de 10 180 000 km² ou 2% da superfície da Terra e cerca de 6,8% da área acima do nível do mar. Dos cerca de 50 países da Europa, a Rússia é o maior tanto em área quanto em população (sendo que a Rússia se estende por dois continentes, a Europa e a Ásia) e o Vaticano é o menor.

A Europa é o quarto continente mais populoso do mundo, após a Ásia, a África e a(s) América(s), com 731 milhões de habitantes, cerca de 11% da população mundial. No entanto, de acordo com a Organização das Nações Unidas (estimativa média), o peso europeu pode cair para cerca de 7% em 2050. Em 1900, a população europeia representava 25% da população mundial. As fronteiras para a Europa, um conceito que remonta à Antiguidade clássica, são um tanto arbitrárias, visto que o termo "Europa" pode referir-se a uma distinção cultural e política ou geográfica.

O continente europeu não possui características homogêneas, pois as disparidades se apresentam em diversos aspectos como paisagens naturais, clima, política e cultura. O continente possui várias maneiras de ser regionalizado, uma delas é classificando em Europa Ocidental e Oriental.

A Europa é considerada o berço da “civilização” ocidental ou “Velho Mundo”, por ter desempenhado um papel preponderante na cena mundial a partir do século XVI, especialmente após o início do colonialismo. Entre os séculos XVI e XX, as nações europeias controlaram em vários momentos as Américas, a maior parte da África, a Oceania e grande parte da Ásia. Ambas as guerras mundiais foram em grande parte centradas na Europa, sendo considerado como o principal fator para um declínio do domínio da Europa Ocidental na política e economia mundial a partir de meados do século XX, com os Estados Unidos e a União Soviética ganhando maior protagonismo.

Durante a Guerra Fria, a Europa estava dividida ao longo da Cortina de Ferro entre a Organização do Tratado do Atlântico Norte, a oeste, e o Pacto de Varsóvia, a leste. A vontade de evitar outra guerra acelerou o processo de integração europeia e levou à formação do Conselho Europeu e da União Europeia na Europa Ocidental, os quais, desde a queda do Muro de Berlim e do fim da União Soviética em 1991, têm vindo a expandir-se para o leste.

A regionalização antes e, principalmente, depois da Segunda Guerra Mundial gerou uma fronteira abstrata, isso significa o surgimento de uma barreira ideológica entre dois grupos de países que compõem o mesmo continente, de um lado os aliados dos Estados Unidos (capitalista) e do outro lado os que apoiam a União Soviética (socialista), consolidando de vez a Europa Ocidental e Oriental.
Com o declínio da URSS, e também do socialismo, surgiram diversas repúblicas autônomas que compunham o território soviético, no entanto, a independência não garantiu uma inserção eficaz na economia de mercado provenientes da herança do sistema produtivo da economia planificada que vigorava na URSS, que não conseguiu acompanhar as outras economias.

Sobre o pioneirismo inglês e sua problemática interna.

Antes da Revolução Industrial, a atividade produtiva era artesanal e manual, no máximo com o emprego de algumas máquinas simples. No artesanato um mesmo artesão cuidava de todo o processo, desde a obtenção da matéria-prima até à comercialização do produto final. Esses trabalhos eram realizados em oficinas nas casas dos próprios artesãos e os profissionais da época dominavam todas etapas do processo produtivo.

Com a Revolução Industrial os trabalhadores perderam o controle do processo produtivo, uma vez que passaram a trabalhar para um patrão (na qualidade de empregados ou operários), perdendo a posse da matéria-prima, do produto final e do lucro. O trabalho tornou-se, assim, alienado.

Foi a Inglaterra o país que saiu na frente no processo de Revolução Industrial do século XVIII. Este fato pode ser explicado por diversos fatores. A Inglaterra possuía grandes reservas de carvão mineral em seu subsolo, ou seja, a principal fonte de energia para movimentar as máquinas e as locomotivas à vapor. Além da fonte de energia, os ingleses possuíam grandes reservas de minério de ferro, a principal matéria-prima utilizada neste período. A mão de obra disponível em abundância (desde a Lei dos Cercamentos), também favoreceu a Inglaterra, pois havia uma massa de trabalhadores procurando emprego nas cidades inglesas do século XVIII.
A burguesia inglesa tinha capital suficiente para financiar as fábricas, comprar matéria-prima e máquinas e contratar empregados. O mercado consumidor inglês também pode ser destacado como importante fator que contribuiu para o pioneirismo inglês.

As fábricas do início da Revolução Industrial não apresentavam o melhor dos ambientes de trabalho. As condições das fábricas eram precárias. Eram ambientes com péssima iluminação, abafados e sujos. Os salários recebidos pelos trabalhadores eram muito baixos e chegava-se a empregar o trabalho infantil e feminino. Os empregados chegavam a trabalhar até 18 horas por dia e estavam sujeitos a castigos físicos dos patrões. Não havia direitos trabalhistas como, por exemplo, férias, décimo terceiro salário, auxílio doença, descanso semanal remunerado ou qualquer outro benefício. Quando desempregados, ficavam sem nenhum tipo de auxílio e passavam por situações de precariedade.
Em muitas regiões da Europa, os trabalhadores se organizaram para lutar por melhores condições de trabalho. Os empregados das fábricas fizeram greves, formaram os sindicatos com o objetivo de melhorar as condições de trabalho dos empregados. Houve também movimentos mais violentos como, por exemplo, o ludismo. Também conhecidos como "quebradores de máquinas", os ludistas invadiam fábricas e destruíam seus equipamentos numa forma de protesto e revolta com relação a vida dos empregados. O cartismo foi mais brando na forma de atuação, pois optou pela via política, conquistando diversos direitos políticos para os trabalhadores, como o direito a voto aos trabalhadores.
A Revolução tornou os métodos de produção mais eficientes. Os produtos passaram a ser produzidos mais rapidamente, barateando o preço e estimulando o consumo. Por outro lado, aumentou também o número de desempregados. As máquinas foram substituindo, aos poucos, a mão-de-obra humana. A poluição ambiental, o aumento da poluição sonora, o êxodo rural e o crescimento desordenado das cidades também foram consequências nocivas para a sociedade.
Na segunda metade do século XIX, países europeus como a Inglaterra, França, Alemanha, Bélgica e Itália, eram considerados grandes potências industriais. Na América, eram os Estados Unidos quem apresentavam um grande desenvolvimento no campo industrial. Todos estes países exerceram atitudes imperialistas, pois estavam interessados em formar grandes impérios econômicos, levando suas áreas de influência para outros continentes.

Com o objetivo de aumentarem sua margem de lucro e também de conseguirem um custo consideravelmente baixo, estes países se dirigiram à África, Ásia e Oceania, dominando e explorando estes povos. Não muito diferente do colonialismo dos séculos XV e XVI, que utilizou como desculpa a divulgação do cristianismo; o neocolonialismo do século XIX usou o argumento de levar o progresso da ciência e da tecnologia ao mundo com base no *Darwinismo Social.

Na verdade, o que estes países realmente queriam era o reconhecimento industrial internacional, e, para isso, foram em busca de locais onde pudessem encontrar matérias primas e fontes de energia, bem como expandir seu mercado consumidor e adquirir mão de obra barata e até mesmo escrava. Os países escolhidos foram colonizados e seus povos desrespeitados. Um exemplo deste desrespeito foi o ponto culminante da dominação neocolonialista, quando países europeus dividiram entre si os territórios africano e asiático, sem sequer levar em conta as diferenças éticas e culturais destes povos.

Devido ao fato de possuírem os mesmo interesses, os colonizadores lutavam entre si para se sobressaírem comercialmente, e essa disputa, um pouco mais tarde, produziria a Primeira Grande Guerra Mundial. 


*O darwinismo social acredita na premissa da existência de sociedades superiores às outras, nessa condição, as que se sobressaem física e intelectualmente devem e acabam por se tornar as governantes. Por outro lado, as outras - menos aptas - deixariam de existir porque não eram capazes de acompanhar a linha evolutiva da sociedade.